Os analgésicos eram acompanhantes inseparáveis da Sra. MRA há 66 anos. Essa senhora de 80 anos, do lar e residente no Rio de Janeiro, nos relatou, na primeira consulta, que sua dor localizava-se na fronte e na lateral da cabeça, só à direita ou eventualmente dos dois lados. O caráter da dor era latejante, forte, piorando com suas atividades físicas rotineiras e frequentemente associada a enjoo, vômitos e a uma maior sensibilidade a luzes fortes e a cheiros. A dor podia aparecer horas após a ingestão de determinados alimentos (principalmente gorduras ou frituras), vinho tinto, exposição ao sol (mesmo em rápidas caminhadas), após aborrecimentos e na época em que iria ficar menstruada. Em cada crise, a dor e todos os outros sintomas tornavam-na incapaz de levar uma vida normal, e a rotina com que se manifestavam foi a maior responsável por sua opção de largar a profissão de professora para só trabalhar em casa.
Quando nos consultou, o número de médicos procurados anteriormente foi de 22 profissionais de várias especialidades, e o diagnóstico, embora muitas vezes acertado, era acompanhado da invariável afirmação de que a enxaqueca não tem cura nem tratamento, e de que ela precisaria aprender a conviver com a dor. Após a desmotivante recomendação, vários analgésicos eram novamente receitados e sempre com a estapafúrdia orientação de tomá-los de seis em seis horas até a dor passar. No entanto, a dor passava e retornava, passava e retornava, passando para sempre retornar… Inúmeros medicamentos e tratamentos foram tentados, mas seus companheiros diários continuavam sendo dois comprimidos de Ponstan®, dois de Advil® e dois de Cefalium®, além dos remédios para o estômago, destruído pelo excesso de Aspirinas® consumidas até alguns anos antes.
A simples suspensão de todos os analgésicos em uso e a introdução do tratamento adequado trouxe de volta ao consultório, cinco semanas depois, uma senhora M. exultante com o fato de a dor já estar ausente há vários dias. Ela nos disse que chegava a balançar várias vezes a cabeça à procura da dor e a certeza de sua ausência trazia-lhe mais motivos de alegria. Era a primeira vez em mais de 20 anos que ela tinha passado mais de cinco dias seguidos sem nenhuma dor de cabeça.